Os conservadores que nos desculpem, mas
somos todos voyeurs. Voyeurs da vida, das pessoas, na natureza, da
arquitetura, enfim, de todas as coisas belas da vida. Pedimos perdão
também ao Aurélio, pois teremos que discordar de sua definição limitada
de voyeurismo que o define como “excitação sexual ao observar a cópula praticada por outros, ou simplesmente ao ver os órgãos genitais de outrem”.
O prazer de observar vai muito além disso. Somos seres curiosos por
natureza e viciados em observação. Não é novidade nenhuma que é
absolutamente possível alcançar níveis de prazer absurdos ou até mesmo
chegar no orgasmo somente com a nossa imaginação. Na mente, muitas vezes
as cenas que nos excitam envolvem a observação de algo, ou de alguém,
que seja erótico ao nosso ponto de vista, mesmo que o nosso parceiro nem
sonhe com isso. Detestamos admitir, mas somos todos curiosos natos.
Ainda sim, o voyeurismo é considerado
uma parafilia, ou seja, a sensação de prazer sexual gerado por uma
situação considerada anormal. Não leve esse definição muito a sério. Há
sim um número restrito de pessoas que levam essa prática ao extremo, mas
ela é mais comum (e saudável) do que parece. Aliás, as pessoas estão
sempre querendo estabelecer um padrão de normalidade para o sexo quando,
na verdade, o sexo pode ser tudo, menos normal. De perto, todos nos
encaixamos em alguma forma de perversão que geralmente dividimos com
pouquíssimas pessoas ao longo da vida já que queremos ter uma vida
social minimamente aceita. Pegaria mal dividir com nosso chefe que
gozamos sempre que pensamos em fazer sexo pendurados do 10 andar usando
somente um salto quinze vermelho. Esse tipo de informação não precisa
ser espalhada. E como ninguém fala sobre suas “perversões”, tudo o que
foge do aceitável passa a ser visto como algo doentio o que, em hipótese
alguma, significa se tratar de um fenômeno raro. Exatamente por isso,
começamos o texto falando que de voyeurs todos temos um pouco.
O que muita gente não sabe é que o
voyeurismo pode ser muito útil na manutenção dos relacionamentos (aqui
vamos tomar como exemplo o sentido mais básico e elementar da palavra
voyeur, que significa apenas o prazer em observar). Por exemplo, você
está andando na rua acompanhado da sua namorada e percebe que um outro
sujeito, atraente por sinal, passa e dá aquela secada discreta que não
esconde o desejo pela mulher com a qual você anda de mãos dadas. Tirar
satisfação está fora de cogitação afinal, todo mundo tem direito de
olhar para onde quiser e certamente sua mulher não gostaria de colocar
uma burca para parar de ser admirada. Mas geralmente o primeiro
sentimento que nos afeta é o ciúme – aquela dor aguda no cotovelo. No
entanto, poderíamos dispensar a raiva e o ciúme se aprendêssemos a tirar
proveito dessa situação. Explicamos: o fato de outra pessoa admirar sua
parceira e ter vontade de observá-la, de alguma forma, te relembra de
quanto ela é desejável. Porque estamos tão acostumados a ver o outro
comprando pão, reclamando com a telefonia, empurrando carrinho, pagando
contas no banco que muitas vezes o que antes nos excitava, começa a ser
rotineiro demais para despertar emoções. De repente você percebe que ela
está em casa com aquele shortinho de pijama que deixa aparecer a
polpinha da bunda e você continua fixado na TV, afinal, aquela é uma
visão normal no seus dias. Não é proposital. Não deixamos de nos sentir
estimulados pelos nossos parceiros de longa data de propósito. Isso
acontece. Somos movidos pelo novo e vamos contra essa regra quando
decidimos que queremos viver um relacionamento longo. Por isso, enxergar
sua mulher (ou homem) com os olhos de outra pessoa, pode ser altamente
estimulante. Suas sinopses cerebrais se lembram do motivo pelo qual você
decidiu ficar com ela entre todas as outras. A brasa que vivia no
controle no seu interior de repente volta a emanar uma chama.
Isso explica um outro desejo secreto que
muitas pessoas têm (mas que poucas ousam admitir): a fantasia de ver
seus parceiros transando com outra pessoa. Esse é um desejo que viola
todas as normas da sociedade, que desmorona nosso ideal romântico, que
desmancha nosso conto de fadas de vivermos satisfeitos somente com uma
pessoa, mas que muitas pessoas não conseguem evitar de senti-lo. Há uma
explicação para isso: ao vermos nosso parceiro(a) sendo desejado
loucamente por outro, nosso prazer se potencializa com o prazer do
outro. Ou seja, renovamos algumas peças do nosso desejo que estavam
gastas pelo tempo através do desejo do outro. E, ao mesmo tempo, ao
vermos nossos parceiros sentindo prazer sem a nossa participação, nos
lembramos de como tudo é frágil, de como nada é estável nem garantido.
Assim como ela(e) sente prazer com você, pode sentir com muitas outras
pessoas. Esse fato nos deixa mais humildes e mais dedicados no exercício
diário de manter a chama do prazer acesa, mesmo com os ventos e as
tempestades que insistem em querer apagá-la.
Se tirarmos a venda do preconceito e
enxergarmos que o voyeurismo é o simples fato de comer com os olhos e
lamber os beiços, ele perde toda a sua carga pejorativa. Se formos ainda
mais longe e descobrirmos uma forma de usá-lo ao nosso favor, como nos
exemplos acima, ele nos faz evoluir mais ainda. Somente nos libertando
dos tabus sexuais martelados em nossas cabeças durante uma infinidade de
anos, poderemos descobrir formas de obter mais prazer e menos tensões
no sexo e nos relacionamentos. Afinal, esse é o objetivo, não é?
Fonte: http://www.casalsemvergonha.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário