Cansados Demais Pra Transar


O tema já virou piada velha. Se você quer fazer mais sexo, não se case. As pesquisas também comprovam o que todo mundo sacou na prática: a frequência sexual costuma ser menor depois do casamento. E às vezes nem é preciso chegar a essa etapa, há muitos casais de namorados transando uma vez por semana ou até por quinzena. Se duvida, faça uma enquete rápida entre os seus amigos. Apesar de toda liberdade sexual vigente, o fogo anda em baixa. Obviamente que a qualidade é mais importante do que a quantidade, mas quando o sexo se torna tão raro, pelo menos para mim, mesmo que me faça ver estrelinhas invertidas ainda é pouco.

Pelo jeito a seca não anda assombrando somente o meu quintal – em uma pesquisa com 26 mil pessoas de 26 países, patrocinada pela Durex, fabricante de camisinhas, dois terços dos entrevistados disseram que não fazem sexo com a frequência que gostariam. No Brasil, 82% das pessoas que responderam à pesquisa disseram ter relações sexuais semanalmente, porém 42% não estão satisfeitas com a vida entre quatro paredes.

O nível de satisfação, de forma global, cai com a idade e o tempo de relacionamento. Para a maioria, a vida sexual poderia ser melhor e falta aventura, libido e interesse. Mas por que fruta mordida perde a graça? Muitas das minhas amigas afirmam que o problema nem é esse, simplesmente estão cansadas demais para encarar o rala-e-rola. Depois de um dia inteiro de trabalho, trânsito, afazeres domésticos, preocupações com as contas, com o que precisam saber para manter a carreira em alta e muitas outras tarefas, sobra pouca coragem para esquentar o clima. Tudo que se quer é um bom banho e cama, no máximo um selinho de boa noite. As coisas costumam complicar ainda mais para quem tem filhos. É muita logística para administrar.

Nessa rotina extenuante da contemporaneidade, em que todos pensávamos que estaríamos apenas apertando botões, o sexo fica relegado a uma trepadinha burocrática no fim de semana (não para todos os pombinhos, só para grande parte dos pobres mortais). Mas serão mesmo o cansaço e o ritmo acelerado dos tempos internéticos os grandes vilões da falta de tesão entre os casais de longa data? Se você passou recentemente por uma paixonite aguda, deve ter percebido quanto o cansaço e a correria do dia a dia são relativos no desempenho sexual. Aposto que mesmo com mil aporrinhações você ainda teve muito pique para morder essa maçã. Mas por que não conseguimos manter essa empolgação do início? Por que o tempo esfria e às vezes até congela o desejo?

Porque, infelizmente, em muitos casos o amor e a intimidade não contribuem para o erotismo, a ignição essencial para o sexo, para o estímulo da libido. A terapeuta de casais Esther Perel, no ótimo livro Sexo no cativeiro, afirma que “os elementos de afeição e proteção que estimulam o amor muitas vezes bloqueiam a naturalidade que alimenta o prazer erótico”. O erotismo depende de uma certa distância, de um pouco de mistério, curiosidade, desafio, jogo de poder e até medo da perda daquele ser desejado. Nesse contexto, o excesso de estabilidade do relacionamento de um casal pode ser um corta tesão. Com o jogo aparentemente ganho e com o processo quase simbiótico que toma conta da vida de alguns casais, pode surgir a sensação de que não há nada mais ali para descobrir, para explorar e o sexo cai no tédio.

Obviamente que o estilo de vida que levamos também não ajuda a aumentar o erotismo da relação. Com tantas preocupações de ordem prática, é fácil se prender à realidade cotidiana e esquecer das outras tantas camadas que existem naquela pessoa com a qual decidimos dividir a nossa vida. Não sei onde está o Santo Graal do erotismo, também estou nessa busca. Mas o meu palpite é que ao invés de tentar “apimentar” o relacionamento, com alguns truques que às vezes até funcionam como paliativos, o melhor é “apimentar” a sua vida, tornando-se uma pessoa cada vez mais interessante e estimulante, capaz de aguçar a curiosidade de quem você ama e de quem você não ama também. Acredito que é preciso ainda criar um pouco de distância para dar espaço ao desejo. Não dá para fazer tudo junto o tempo todo, não dá para transformar o ser amado no melhor amigo. Guarde alguns segredos, faça coisas diferentes com o seu amor, assim você pode vê-lo ou vê-la em outras situações, que talvez revelem facetas interessantes dessa pessoa que você pensa já conhecer como a palma da sua mão. Olhe sua mão por outros ângulos. Pense em sexo, aumente o nível de sacanagem no seu cérebro, fantasie. Pare de culpar o cansaço e dê mais espaço para o erotismo. Se você conseguir, nos conte como.

Fonte: http://www.casalsemvergonha.com.br/

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